Etarismo: o que é e como evitar?

Apesar de o envelhecimento ser parte do ciclo de vida, essa fase ainda é encarada de forma muito complexa. O negativismo acerca do processo de envelhecer é marcado por estigmas e, muitas vezes, evolui diretamente para a discriminação. A discussão acerca dos efeitos do etarismo (conhecido também como ageismo) pode parecer recente, mas quem envelhece sabe que, conforme a vida passa, as dificuldades aumentam, e o olhar da sociedade muda drasticamente.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 60% dos idosos, em 57 países, afirmam ter sido afetados por esse preconceito. O etarismo pode causar diversos problemas não só para pessoas mais velhas, que vão desde a exclusão de espaços e negação de direitos, até mesmo a traumas profundos e agravamento de doenças físicas e psicológicas. Os reflexos da discriminação etária quando percebidos pelos idosos, podem provocar perda da autoestima, o aumento do risco de doenças crônicas (cardiovasculares e respiratórias) e de depressão e também redução da expectativa de vida em 7,5 anos.

O que é etarismo?


Etarismo (ou ageism), é um tipo de discriminação voltado para grupos etários, ou qualquer tipo de preconceito com base na faixa etária. O mais agravante dos casos envolve idosos que, por conta do etarismo, acabam sendo vítimas de estereótipos, características pejorativas, além de serem vítimas de um movimento estrutural para a exclusão das pessoas mais velhas de espaços, atividades ou outras esferas do convívio social.

O termo ageism surgiu em 1969 pelo geriatra e gerontólogo norte-americano Robert Butler na ocasião em que a construção de um imóvel residencial para idosos nos Estados Unidos virou polêmica graças à oposição de vizinhos com base na discriminação etária. Outros exemplos desse comportamento preconceituoso podem ser observados diariamente. O desinteresse do mercado de trabalho em contratar pessoas mais velhas, a falta de acessibilidade para acolher as dificuldades de locomoção dessa faixa etária (calçadas esburacadas e ruas sem sinalização, por exemplo), e até mesmo na falta de paciência ou hostilidade com quem caminha devagar na rua são alguns deles.

Etarismo no Brasil

No Brasil, os idosos representam cerca de 14% da população e, ao longo dos anos, a expectativa de vida média da população aumentou. No entanto, um levantamento do Datafolha expôs uma face preocupante do etarismo no país: 9 em cada 10 idosos entrevistados acreditam na discriminação etária com as pessoas mais velhas, e 16% dos brasileiros com mais de 50 anos já se sentiram vítima de algum tipo de discriminação por estarem envelhecendo.

O Estatuto da Pessoa Idosa foi estabelecido em 2004 para combater os efeitos diretos do etarismo e para humanizar pessoas que estão passando pelo processo natural do envelhecimento. Entre as prioridades estão o acesso ao tratamento preferencial, à proteção contra violência e a gratuidade no transporte.

Como o ageismo afeta as mulheres?


Já se perguntou no que realmente está por trás quando uma mulher mente a idade? Por mais que, fisiologicamente, o envelhecimento seja comum a todos os seres vivos, atingindo homens e mulheres igualmente, a idade acaba exacerbando a cobrança da sociedade com a mulher. Não sabe como? Reflita sobre as afirmações abaixo e pense se você já não as viu, ouviu ou pensou:


  • Mulheres com cabelos brancos são encaradas como desleixadas.

  • Atrizes deixam de ser escaladas para papéis principais quando envelhecem.

  • Mulheres em relacionamentos com homens mais jovens são severamente julgadas.

  • Mesmo ao envelhecer, as mulheres são cobradas para manter o corpo jovem.

  • O culto ao corpo jovem feminino parece “proibir” que as mulheres aparentem sua verdadeira idade. Com isso, todo um mercado é criado e a ordem de consumo de produtos antienvelhecimento é instaurada.


Com cada vez mais mulheres receosas de envelhecer, a indústria tem se alimentado desse sentimento. De cremes e séruns a procedimentos invasivos que “previnem” o envelhecimento natural das células, o relatório de pesquisa de mercado da P&A Intelligence afirma que o mercado global de antienvelhecimento gerou uma receita de US$191,5 bilhões em 2019 e projeta um crescimento de 8,1% até 2030.

Com a desvalorização atribuída ao feminino com o envelhecimento, é natural que as mulheres tenham medo de envelhecer e busquem recursos para “retardar” esse processo. Contudo, o reconhecimento de suas próprias potências e o autoconhecimento de limitações e novas conquistas que o corpo mais velho pode trazer é o caminho para uma trajetória mais saudável.

Exemplos de etarismo: como evitar atitudes que podem ser discriminatórias?


Como o ato discriminatório com as pessoas mais velhas está ligado a uma construção social, é preciso políticas e projetos que reforcem a naturalidade da fase e dissolva estereótipos negativos desse grupo. Além disso, é preciso estar alerta sobre quais atitudes ou falas discriminatórias podem estar sendo compartilhadas inconscientemente. Veja abaixo alguns exemplos:


  • Comentários como “você está velho demais para isso”, ou “isso não é para a sua idade”;

  • Recusar-se a contratar funcionários ou prestadores de serviços por achá-los velhos demais;

  • Obrigar pessoas mais velhas a aposentar-se ou a cessar alguma atividade baseada apenas na idade avançada;

  • Ignorar a autonomia e a fala de uma pessoa idosa por achá-la incapaz de coerência ou sanidade;

  • Infantilizar a pessoa idosa, impondo regras e limitações desnecessárias.

Encarar o envelhecimento como uma fase natural do ciclo da vida é fundamental para acabar com o etarismo: ao compreendermos que o amadurecimento e o passar do tempo também são sinônimos de mais experiência e oportunidades de aprendizado, entendemos que a idade não pode ser limitadora mas, sim, potencializadora. Ao mesmo tempo, é necessário estar consciente que a população idosa necessita de atenções especiais para a saúde de qualidade, acessibilidade e inclusão.


Escrito por: Talitha Benjamin / https://universo.salonline.com.br/ageismo/


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