Quanto custa morrer no Brasil e em Uk?

Quanto custa morrer?

NAZARÉ JACOBUCCI

“Quando eu morrer me enterre na Lapinha, 
Quando eu morrer me enterre na Lapinha”. (Baden Powell / Paulo César Pinheiro)

Noto um certo estranhamento quando alguém me pergunta qual é minha área de atuação e eu respondo que trabalho com pessoas enlutadas. Mas, o estranhamento maior é quando explico que também ajudo pessoas em final de vida e seus familiares a compreenderem a morte. Neste momento, observo o quão falar da morte é algo incomum e, para algumas pessoas, constrangedor.

No entanto, a morte visitará a todos nós em um determinado momento. Por isso, seria interessante nos preparamos para esta visita. Há aspectos práticos que a envolvem e ter que lidar com eles num momento de extrema fragilidade psicoemocional pode se tornar insuportável. Uma das questões mais difíceis é decidir, caso a opção seja enterrar, qual o caixão, local, transporte e tudo o que envolve um funeral. Existem cemitérios públicos, mas muitos optam por cemitérios privados e um lote pode custar caro, assim como sua posterior manutenção. Morrer tem um custo financeiro significativo, mas muitos de nós não nos atentamos para esse detalhe.

No Brasil há o jus sepulchri (direito à sepultura), do qual todo brasileiro tem direito. Essa lei se refere ao direito à sepultura em cemitérios públicos, no direito de manter-se sepultado, que é conferido a qualquer pessoa. O tempo de uso permitido de um jazigo público é geralmente de 5 anos. No entanto, muitas pessoas preferem adquirir jazigos em cemitérios privados.

Com efeito, a taxa de manutenção de jazigo é cobrada por todos os cemitérios, sejam eles particulares ou municipais (públicos). A taxa de manutenção é o que mantém a estrutura do cemitério, ou seja, a conservação da área comum, como tratamento e renovação dos jardins, das árvores, manutenção das ruas e dos alambrados e de toda a infraestrutura oferecida pelo cemitério.

No Brasil o morrer tem um custo considerável. Segundo matéria publicada na plataforma UOL Economia, na cidade de São Paulo, por exemplo, é preciso pagar, no mínimo, R$ 668,34 pelo funeral completo. Mas os preços podem chegar a
R$ 20.916,47, dependendo do tipo de caixão escolhido, enfeites florais, mesa de condolências, véu e velas. Quem optar pela cremação paga ainda entre R$ 193,01 e
R$ 2.064,12. Mas, de acordo com William Augusto do Grupo Serra empresa Funerária o valor de um funeral pode chegar a R$ 40.000,00.

Quem deseja que seu corpo seja cremado deve tomar, em vida, algumas precauções. No Brasil, o processo de cremação é orientado pela Lei Federal Lei nº 6.015/73. O recomendado é informar aos seus familiares o seu desejo e deixar uma Declaração de Vontade escrita e assinada, com reconhecimento em cartório. Caso isso não ocorra, a decisão pela forma que você será sepultado caberá aos seus familiares de primeiro grau, ou seja, cônjuges, pais, avós, filhos, netos e irmãos. Como você pode notar, ser cremado é algo que envolve questões burocráticas e, por isso, deixar encaminhada a sua Declaração de Vontade e conversar antecipadamente com a família sobre os seus desejos é muito importante.

Uma possibilidade que tem atraído interessados nos últimos anos são os planos funerários. Isso nada mais é do que pagar um seguro funerário para que sua família não tenha despesas ou problemas no momento de sua morte. Rodrigo Almeida da RC Almeida Seguros me informa que existem dois tipos de serviços: o auxílio funeral e a assistência funeral. A diferença entre os serviços são:
Auxílio funeral: a família será reembolsada dos gastos referentes ao funeral. Nesta cobertura, a escolha da empresa que irá prestar o serviço é livre, ou seja, a família será responsável por contratar o serviço diretamente com um prestador, assim como supervisionar a execução dos mesmos. Posteriormente, para que a família tenha o reembolso das despesas referentes ao funeral, será necessário enviar à seguradora as notas fiscais emitidas pelo prestador dos serviços.
Assistência funeral: é uma cobertura complementar ao seguro e, diferentemente do auxílio funeral, não dá direito ao reembolso, nem à livre escolha para prestação dos serviços, ou seja, estes serão executados por empresas indicadas pela seguradora. Nesta cobertura, a família não tem a preocupação de ter que contratar uma empresa para fazer a prestação do serviço de funeral, pois a seguradora irá indicar um prestador que cuidará de todos os detalhes até a conclusão, conforme previamente estabelecido em contrato. Esta modalidade também contempla o serviço de translado nacional e repatriamento do corpo caso a pessoa morra em território estrangeiro.

No Reino Unido, o custo total médio de um funeral em 2017 foi de £ 3.944 incluindo taxas. No entanto, se a pessoa reside em Londres esse custo sobe para £ 5.529. Londres é o local mais caro para se morrer no Reino Unido, enquanto as pessoas na Irlanda do Norte pagam £ 3.277 para um serviço similiar.

Em Portugal, o custo total médio de um funeral básico é de € 1.726 e um intermediário é de € 4.736. Caso a opção seja a cremação o valor médio é de € 2.037,10. Independentemente do tipo de cerimónia que se escolha, existem sempre algumas despesas que são inerentemente obrigatórias.

Como pudemos observar, assim como viver, o morrer também custa dinheiro e exige um planejamento financeiro.

Nazaré Jacobucci
Mestranda em Cuidados Paliativos na Fac. de Medicina da Universidade de Lisboa
Psicóloga Especialista em Luto
Especialista em Psicologia Hospitalar
Psychotherapist Member of British Psychological Society (MBPsS/GBC)
http://www.perdaseluto.com



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