Lady Silvana Monson

Lady Silvana Monson

A baiana que virou Lady

Na estrada de Londres para Stratford Upon Avon, cidade histórica onde Shakespeare nasceu e viveu, a 2 horas de Londres, pausa para o almoço. A nossa parada foi no clube no Soho Farm House, clube favorito entre membros da realeza, aristocratas e celebridades. Almoçamos no restaurante de um clube em que pessoas passam anos esperando para se tornarem membros. Desde então começo a perceber o universo restrito da aristocracia britânica. 

Chegando na entrada de sua casa, o requinte e o senso estético do espaço me chamam atenção. Pinturas na parede feitas à mão, móveis originais, cores vibrantes e uma sala de jantar que parece ter saído de um sonho. Quando vejo o conjunto da obra, Lady Silvana Monson, 50, designer de joias, formada em Administração e Comércio de Luxo. Percebo que a sua trajetória de vida mais parece ter saído de um livro do próprio Shakespeare. Na infância Silvana era uma criança levada, algumas vezes contrariava a sua mãe Dona Oswaldith. Na adolescência, era ousada e independente. Estudou no Vieira, colégio católico na cidade de Salvador na Bahia, nordeste do Brasil. Começou a cursar Museologia na Universidade Federal da Bahia, mas teve que interromper, e brinca que “se tivesse seguido a carreira de museóloga estaria muito bem adaptada no contexto do que hoje é a sua vida”; ela carrega o sobrenome de uma das famílias nobres mais antigas da Inglaterra. Silvana Monson começou o seu caminho em terras britânicas na cidade de Oxford, onde estudou inglês, depois de um ano mudou-se para Londres e conheceu seu primeiro marido, Nicolas. Depois um ano e meio de casada seu esposo faleceu, Silvana retornou para o Brasil, abriu uma escola de inglês, tornou-se consultora de pequenas empresas na área financeira e administrativa, depois de dez anos voltou para a Inglaterra e conheceu o segundo e mais importante Nicolas da sua vida, Lord Nicolas Monson.

O Título

Silvana conheceu Nicholas Monson por meio de amigos em comum, e conta que “uma amiga tinha pedido para tomar conta de seu gato, e quando fui no apartamento dela conhecer o gato, ela tinha feito um jantar para alguns amigos, e foi assim que conheci Nicolas pela primeira vez” – começaram a namorar e pouco tempo depois se casaram.

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Com um pouco mais de um ano de casada, o pai de Nicholas Monson faleceu, passando o título de lord para ele, e consequentemente por meio do casamento Silvana recebeu o título de Lady Monson. E assim começa a sua trajetória como membro da aristocracia inglesa. Silvana diz o que mudou na sua vida depois do título de Lady: "Fazer parte da aristocracia com tão poucas pessoas no mundo atualmente é algo que acredito ser muita responsabilidade, pois você tem que se mostrar que é uma boa pessoa para todo mundo, sem querer que o título te faça diferente de ninguém. Ao contrário, você tem que se mostrar prestativa, e fazer com que as pessoas se sintam bem ao seu redor. É um desafio, pois quando você tem um título, você se diferencia das outras pessoas. O certo é fazer com que as pessoas próximas a você se sintam iguais a você".

Designer de Joias

A sua forma é ousada, a qualidade é inquestionável: bolsas de pérolas, ouro, anéis de safira, porta-guardanapos e outras pedras preciosas e semipreciosas compõem o seu brilhante e criativo trabalho como designer de joias. 

Lady Monson diz: “Sempre gostei de fazer colares, pulseiras, mas não sabia fazer nada direito, então eu pesquisei, encontrei o curso de Comércio de Luxo e fui desenvolvendo a minha criatividade. Inicialmente trabalhava apenas com contas, mas só fazia com pérolas de água doce, e depois de aprender a fazer a solda, fui aprendendo as técnicas”. Lady Silvana realizou algumas exposições em Londres e só trabalha por encomenda. A designer quando vai ao Brasil procura trazer novidades para que as pessoas conheçam um pouco do que se produz no país. Hoje em dia as pedras brasileiras já não são tão baratas e são muito conhecidas. Diz que sempre procura trazer algo diferente, "mas desde a globalização, não existe mais o diferente, você precisa criar alguma coisa por você mesmo, ou a partir daquilo que as pessoas gostam. Você tem que tentar fazer o seu mercado, conversar, ouço muito meus clientes". Ela vai sempre nas grandes feiras de joias em Londres, onde ela acha material diferente, coisas novas que estão sendo lançadas, cortes diferentes.

O novo Lar

Silvana já queria sair de Londres há algum tempo, e por acaso durante uma viagem de carro o casal parou na cidade histórica Stratford Upon Avon, gostaram, alugaram uma casa para ficar a temporada. Durante as visitas acharam uma casa pré-vitoriana construída em meados da coroação da rainha Victoria em 1838, era uma “guest house” – casa para hóspedes. Decidiram comprar, para isso precisariam reformar a casa quase inteira. Foi mais de um ano reformando, das reproduções de tijolos originais da chaminé ao tratamento de água corrente com sais minerais. Absolutamente toda a reforma da casa foi realizada sobre a direção da lady Silvana, e ela  resolveu trabalhar com os hóspedes de maneira diferente, “porque é a minha casa e eu preciso ter alguma ideia de quem vai se hospedar aqui”. Os hóspedes precisam ligar, estabelecer o mínimo de confiança possível. São 5 quartos decorados, entre duplos, triplo e casal, que vão do estilo vitoriano ao moderno. O Victoria Spa é tombado pelo patrimônio histórico, e os Monson vão abrir pela primeira vez no verão de 2019, de junho a agosto. A decoração é refinada e rica em detalhes, o bom gosto do papel de parede e pinturas feitas à mão são um espetáculo à parte – é como se hospedar numa galeria de arte, com o conforto necessário para descansar os olhos nas belas paisagens que se formam a cada olhar. O cuidado, os móveis e objetos originais do período da casa que é pré-vitoriana e banheiros modernos e equipados. Tudo em perfeita harmonia entre o tempo e o espaço, num cenário adaptado para uma experiência imersiva na Inglaterra aristocrática.

Mensagem para as leitoras:

Sempre trate as pessoas da maneira que você quer ser tratada. Nunca da maneira que você não quer ser tratada. Porque assim sempre temos e estaremos ao lado de pessoas que procuram ajudar os outros. 

LORD MONSON

 

A FAMÍLIA MONSON

A etimologia dos Monson é de origem escandinava. Possivelmente as origens de seu nome provêm da região da Suécia. Lord Nicolas Monson acredita que os seus ancestrais vieram de uma linhagem de guerreiros vikings no século 9 em grandes barcos para a Inglaterra. O novo rei da Inglaterra, Rei Alfred, apaziguou as guerras contra os vikings, assentando-os na região que hoje é Lancashire, Yorkshire, no oeste da Inglaterra. Tempos depois, os Monson participaram de uma das famosas batalhas contra a França liderada pela Inglaterra – esse foi um dos primeiros êxitos de muitos que a família Monson realizaria pelo Reino Unido.

 

Em 1536, no dia em que Ana boleta foi executada, em outra parte do palácio, John Monson ascendeu e logo se tornou Sir John Monson. Desde então ascenderam devagar, mas tiveram casamentos vantajosos. Tomas Monson foi o primeiro barão. Era um membro da corte (retrato pindurado).Um dia ele era o guardião da Torre de Londres, no outro dia se envolvia em escândalos ligados a máfia, gangues e assassinatos. O seu irmão Sir William Monson fez carreira naval, também escreveu um livro chamado “Naval tracks”, sobre seus pensamentos e suas invenções na marinha, e até hoje é estudado por muitos historiadores, que confirmam William “ter sido um dos homens mais extraordinários do seu tempo”. O filho de Tomas leu o discurso do rei durante guerra civil entre 1640e 1641. “São muitas histórias interessantes”, lembra Nicola com brilho nos olhos. Muitas gerações atravessaram os séculos até chegar no atual 12º Monson. Nicolas tem 2 títulos ao mesmo tempo, “sou o 12º Lord Monson e Sir NIcolas Monson”, diz com ar nostálgico e satisfeito da longa jornada de sua família. Nicolas brinca “que em algum momento um Monson casou com uma portuguesa, mas não me lembro quando”, diz com um sorriso no rosto. 

 

NEM A MORTE OS SEPARA

 

Lord Nicolas Monson teve três filhos, uma menina e dois meninos. Há 7 anos seu filho mais velho estava no Quênia de férias, e ao fumar um baseado, foi preso e assassinado. Um crime horrendo, cometido pela polícia corrupta do país. No Quênia, a justiça e o ”establishment” também são reféns da polícia, que tem obstruído as investigações e atrapalhado o andamento do processo. Durante o julgamento a polícia do Quênia foi longe demais, sequestraram e assassinaram um advogado que estava cuidando do caso do seu filho. "O governo britânico não tem poder suficiente para interferir no processo", lamenta Nicolas. Quatro anos depois, o seu segundo filho, o talentoso jovem Rupert Monson, 19, entrou num surto psicótico, e foram muitas clínicas e tratamentos, a química do seu corpo tinha mudado, o seu filho também fumava skunk – uma variação mais forte da maconha. Nicolas não sabia que a maconha que o seu que filho fumava e era vendida no Reino Unido poderia ser tão danosa. O seu segundo filho se suicidou, e com a investigação foi encontrada uma forte substância no seu sangue, extraída do skunk. E foi assim que a campanha para regulamentar a maconha começa a tomar forma, profundidade e ação.

 

A CAMPANHA

 

Lord Nicolas Monson mobilizou acadêmicos, cientistas e estudiosos em defesa da regulamentação da maconha no Reino Unido. A sua campanha alerta principalmente sobre a substância química que superpotencializa o THC e também torna a erva altamente viciante.

Para os jovens que fumam essa erva, o uso pode ser devastador para a formação do cérebro, perdendo a capacidade cognitiva e podendo levar a surtos psicóticos e à depressão. O estigma, a intolerância e o abuso que a canabis apresenta na sua forma de consumo atualmente foi responsável direta e indiretamente na morte de seus dois filhos. Tereza May chegou a enviar duas cartas para Lord Monson, lamentando a morte de seus filhos e se dispondo a ajudar no que fosse preciso.

A campanha de Lord Monson, que já dura dois anos, tem sido eficiente, e projetos de lei sobre a regulamentação já circulam no parlamento –  medidas de uso medicinal já foram aprovadas. Ele apoia o sistema em alguns estados nos EUA, nos quais já regulamentaram a erva, impedindo as pessoas de fumarem um produto tóxico e aumentando a qualidade de vida dos usuários. Nicolas já esteve em programas de televisão e publicou artigos em jornais.

O seu argumento principal é a regulamentação de produtos derivados da maconha com menos teor químico, o mesmo argumento usado para legalizar o álcool no EUA na década de 50. Nicolas, que não é usuário, afirma que "a planta em si não faz mal algum, o problema é como as pessoas fazem o uso dela, e a maior batalha é em relação a essas pessoas". A ciência abre um novo caminho na história do Reino Unido em relação à descriminalização da droga.

Ainda há muitos obstáculos pela frente, o tabu, o fim do estigma. A determinação e a coragem de Lord Nicolas Monson nos inspiram a cada gesto, a cada passo, a cada traço dessa história que nos leva a repensar sobre os nossos reais valores humanos, o que é essencial e necessário para as nossas vidas e o que trará mais brilho e esperança à nossa complicada civilização.

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