Meu Marido não me ajuda , ele simplesmente cumpre o seu papel de Pai.
Meu marido não me ajuda.
Meu marido Paulo e eu chegamos em Londres no começo do ano de 2011 e no final do ano ja estávamos “grávidos” esperando nosso primeiro filho, o William. Thomas nasceu 14 meses depois. Tivemos quase gemeos e quase surtamos. A decisão de ter filhos seguidos foi totalmente desejada e planejada, porém, a expectativa que tínhamos foi completamente diferente da dura realidade que tivemos que encarar em um país desconhecido, sem falar muito inglês, com duas crianças pequenas, sem muito dinheiro, em um apartamento minúsculo e um dignóstico de autismo que William receberia com quase 5 aninhos.
Passei por momentos bem difíceis, mas em alguns momentos também me sentia a Mulher Maravilha: cuidava das crianças, da casa, de projetos pessoais e ainda tinha tempo, de vez enquando, para dar uma saidinha com as amigas enquanto Paulo cuidava das crianças ainda pequenas. Não conseguíamos sair juntos nunca, porque alguém precisava cuidar das crianças.
Eu gosto de sair sozinha com minhas amigas. Eu preciso deste tempo para mim. Conversar com pessoas adultas e sair um pouco de casa. Estas saídas para conversar e dar risadas eram mais eficazes (e mais baratas) do que qualquer 10 sessões de terapia intensiva! Foram nestas saídas que comecei a escutar frases do tipo: “que bom que Paulo te ajuda, você tem sorte!”.
Eu não questiono a sorte mesmo de ter o Paulo em minha vida, assim como ele tem sorte de eu estar na vida dele, certo? Então eu fico me questionando se quando Paulo chega a algum happy hour da empresa onde ele trabalha, será que alguém chega para ele e diz: “que bom que Gisele te ajuda, você tem sorte!”? Perguntei se algum dia ele escutou essa frase ele disse que NUNCA ouviu isso de ninguém.
Passei a identificar estes tipos de comentários de “meu marido me ajuda”, geralmente vindo de mulheres. Comecei a entender que comentários como estes vinham, infelizmente, de mulheres que nem sempre tiveram apoio dos maridos.
E por que um comentário como este sempre me incomoda tanto? Porque Paulo não me ajuda! E eu não ajudo Paulo. Nós dividimos nossas obrigações. Simples assim. Ajuda eu tenho de alguma amiga que queira me levar a um lugar sabendo do pânico que eu tenho de dirigir em lugares que não conheço. Ajuda eu tenho de um familiar que queira vir nos visitar e trazer bons momentos para nossa casa. Ajuda eu tenho de um vizinho que oferece uma mão, vendo que estou com duas crianças e um monte de sacola para levar para o primeiro andar. Isso é ajuda! É sempre bem vinda!
Eu não ajudo Paulo também! Nós dois fazemos o que é preciso ser feito para que possamos chegar o mais próximo da sombra da família-de-propaganda-de-margarina.
Agradeço sempre por tê-lo ao meu lado nesta aventura chamada vida. Poder contar sempre com alguém para te fortalecer em momentos que você está frágil, poder olhar para trás e ver o maremoto que passamos e estamos vivos, conseguindo criar nossos filhos: isso sim é sorte!
Gisele Dal Pai
@GiseleDeCuritiba