A saúde mental e a comunidade LGBTQIAP+
Discutir a saúde mental ainda é um debate extremamente estigmatizado, rodeado de preconceitos e até falácias. Entretanto, o recorte dessa temática dentro da comunidade LGBTQIAP+ é ainda mais problematizado – essa é marcada pela cultura da violência e da LGBTQIAP+fobia. Assim, a situação dessas populações distancia-se ainda mais do cenário mais conhecido das questões levantadas pelas políticas de saúde mental, ocorrendo a formação de um fenômeno específico e que merece atenção especial devido às suas motivações e origens que diferem das demais circunstâncias.
Diante disso, pode-se apontar a questão de saúde pública que os pensamentos suicidas apresentam. Como política pública de assistência e enfrentamento do suicídio, as campanhas do Centro de Valorização da Vida e a marca de setembro como Mês da Conscientização e Prevenção do Suicídio – conhecido também como Setembro Amarelo – são ações que visam munir e lecionar a sociedade civil para lidar e enfrentar o suicídio como um problema coletivo e uma questão pública, não mais como algo individual. Esse ponto de coletivizar e tornar público o problema é tão reforçado por essas ações que a comunicação e o diálogo aberto, respeitoso e acolhedor se tornaram as mais poderosas ferramentas de prevenção, combate e cura, ao ponto de sua importância ser estampada no seguinte lema: “Falar é a melhor solução”. Afinal, ninguém merece, tampouco deve, enfrentar os seus sofrimentos e angústias sozinho(a).
Esse, por sua vez, é um aspecto que merece mais atenção. Ao expressar a abertura para o diálogo, a sociedade também deve se incumbir da responsabilidade de ser um agente de cuidado e atenção, para isso, ela deve reconhecer os sintomas, distinguir os estigmas de verdades, além de escutar especialistas e buscar apoio nestes quando for necessário. Além disso, conversar com o outro que sofre faz com que nos coloquemos em seu lugar e desenvolvamos o sentimento de empatia – compartilhando a compreensão mútua e a solidariedade com o próximo. Como dito, as pessoas com tendências suicidas têm dentro de si um forte sofrimento de angústia, sofrimento ou solidão, encarando o interromper da vida como um meio de cessar tais sentimentos persistentes que são motivados por diversos eventos e circunstâncias – tendo aspectos sociais, psíquicos, fisiológicos e até culturais envolvidos.
O sofrimento precisa findar-se e, assim como os outros sentimentos, a exemplo da alegria, orgulho e amor, a dor precisa ser expressa, caso contrário, torna-se sufocante. Por isso, é fundamental discutir sobre a saúde mental das pessoas LGBTQIAP+, é necessário desenvolver espaços-tempos de acolhimento e resolução de suas principais necessidades, reivindicações e identidades, para possibilitar que a dor saia por meio de palavras, e não por atos de agressão contra si e contra os outros.
A comunidade LGBTQIAP+ historicamente teve direitos, pautas, particularidades e dificuldades largamente desconsideradas, já que a própria existência plural e diversa era vista como ilegítima. Desde o acesso a serviços básicos de saúde pública – atendimento ambulatorial e exames de rotina, por exemplo – e a métodos contraceptivos, conjuntamente com o descaso rotineiro, diante da LGBTQIAP+fobia por ela sofrida diariamente, até o precário estado de saúde mental dessa população tão extensivamente oprimida, a comunidade viu, por décadas, suas necessidades colocadas em segundo plano. Contudo, evidencia-se, felizmente, cada vez mais nas mídias, nas discussões sociais e na arte, a representação fiel desse grupo social e o destaque das suas experiências diárias, inclusive no que diz respeito à saúde mental de jovens e adultos LGBTQIAP+.