Sexualidade feminina ao longo da história
Conhecer a história da sexualidade feminina é resgatar os sussurros trocados ao longo dos séculos, as cartas conservadas como forma de exteriorização do eu e os relatos passados entre muitas gerações de mulheres. Durante grande parte da história, os homens aparecem como protagonistas preservados nos livros das grandes bibliotecas, enquanto as mulheres, privadas de informações e espaços de discussão, enfrentavam os costumes que lhes limitavam. Ao mesmo tempo, buscavam um futuro onde pudessem garantir o direito de conhecer o próprio corpo e de fazer reverberar as suas vozes.
Tentativas de controle da sexualidade feminina pelo patriarcado se fizeram evidentes de diversas maneiras. Foucault afirma que, antes do século XVII, “eram frouxos os códigos da decência e da obscenidade”. Nesse contexto, a exposição das anatomias, assim como o debate dos sexos, era algo normalizado no cotidiano. A sexualidade era de conhecimento tanto para adultos quanto para crianças. O sexo era visto como algo natural, sem repressões. Entretanto, nos séculos seguintes, as restrições quanto ao desfrute do prazer sexual, a imposição dos costumes e a objetificação da mulher como mero aparelho de procriação tornaram-se frequentes. E, em muitos lugares, regra.
O silêncio em relação a sexualidade faz com que as mulheres passem a evitar as discussões acerca do sexo, do corpo e suas relações, mesmo em ambientes privados, limitando suas conversas a temas frios, imperturbáveis à convivialidade e aos bons costumes dos séculos. É importante perceber que a privação do corpo e da sexualidade feminina afirmava-se como um gesto político e de controle da mulher. Não foi à toa que Foucault dedicou-se ao tema em sua obra A história da sexualidade. Enquanto os homens tinham pleno acesso à sexualidade dentro de bordéis, o mesmo conhecimento não era permitido às mulheres, que casavam-se virgens e eram proibidas de sentir prazer durante a relação sexual.
A sexualidade feminina era tão inexplorada que, até o século XX, o orgasmo feminino ainda era desconhecido. Nesse período, a medicina e a psicologia começaram a se aprofundar nesse estudo. Apesar disso, as mulheres continuavam a ser ensinadas a não discutir tais assuntos em espaços públicos, limitadas a expô-los, de maneira quase vergonhosa, dentro dos consultórios ginecológicos e psicológicos.
A intolerância, assim como os costumes, ainda ditam a maneira de vestir, de se relacionar e de lidar com o sexo para muitas mulheres. De acordo com o levantamento feito pelo Instituto Avon e Data Popular em 2014, 48% das mulheres entrevistadas dizem achar errado a mulher sair com os amigos, sem a companhia do marido ou namorado e 80% afirmam que a mulher não deve ficar bêbada em festas ou baladas. Tratando-se de relacionamentos e sexualidade, 68% dizem achar errado a mulher ir para a cama no primeiro encontro e 76% criticam aquelas que têm vários “ficantes”. Além disso, 9% afirmam que já foram obrigadas a transar sem vontade, enquanto 37% que já tiveram relação sexual sem camisinha por insistência do parceiro.
Com novos espaços de debates e muitas leituras, esse cenário está mudando. O século XXI surge como um momento de importantes transformações para a emancipação da sexualidade feminina. Discussões acerca da pílula anticoncepcional, a escolha da maternidade, direito à masturbação e aos orgasmos múltiplos, assim como a luta pelo aborto são conquistas e avanços que pouco a pouco se consolidam dentro das pautas feministas e da busca pela emancipação da mulher.
O que as mulheres têm a dizer sobre isso?
Entrevistamos as estudantes Clarissa Cidade, Lívia Damasceno e Thaís Bianchi para discutir o tema. As jovens procuram desconstruir o pensamento de que falar de sexo esteja relacionado a vulgaridade. Elas mostram que isso diz respeito à vida e à saúde feminina e que, apesar de todos os tabus, compreender a sexualidade é uma forma de conhecer a si mesma. Cidade, por exemplo, afirma que as mulheres às vezes possuem o receio de falar sobre certos temas, mas que o empoderamento facilita a expressão da sexualidade feminina. Mesmo assim, nesse percurso de conhecer o seu eu, ainda tem muito a descobrir sobre o próprio corpo.
Fonte: Blog Medium