O que é apropriação cultural?

Já ouviu falar de que “nada se cria, tudo se transforma”? Se você é brasileira, deve saber que, “cultura” é, o que chamamos hoje, uma série de práticas específicas que pertence a nós, mas que foi sendo moldada e influenciada por diversas outras culturas, muitas vezes através de contatos não-pacíficos, como a colonização ou a guerra. Entrar nesse assunto pode parecer confuso e difícil de entender, principalmente nos últimos tempos, quando outras complexidades passaram a ser debatidas, como a apropriação cultural.

Esse debate é especialmente complexo aqui no Brasil. Afinal, nós somos uma nação amplamente miscigenada, e a nossa trajetória de colonização, escravidão e imigração criou um povo altamente diverso, com partes essenciais da nossa identidade sendo influenciado por culturas de todo o mundo. Então, é possível afirmar que apropriar-se culturalmente de algo é bom ou ruim? Não seria esse processo algo inevitável? Como garantir que a troca entre culturas seja respeitosa e amigável? Vamos tentar descobrir!

O que é apropriação cultural?

O termo “apropriação cultural”, de forma simples, refere-se ao ato de usar objetos ou elementos de culturas não-dominantes de forma negativa, ou seja, reforçando estereótipos, contribuindo para a opressão, ou simplesmente desrespeitando o seu significado e simbolismo original. Dessa forma, a apropriação cultural é um fenômeno complexo e difícil ainda de se evitar, já que muitas pessoas o fazem sem ao menos perceber, principalmente se tratando de um país altamente miscigenado como o Brasil.

É natural que culturas se misturem e influenciem umas às outras, principalmente em um mundo cada vez mais globalizado e sem fronteiras. No entanto, é importante notar quando essa apropriação ocorre de forma negativa, ou seja, de modo a oprimir, prejudicar ou desrespeitar quem criou o elemento original. O próprio termo “apropriação cultural” foi criado por acadêmicos na década de 1980, a fim de explicar a exploração e apagamento de elementos simbólicos, religiosos, políticos e sociais de países colonizados.

Exemplos de apropriação cultural

Um exemplo claro de apropriação cultural indevida aqui no Brasil são as “fantasias” que simulam o modo de se vestir de povos indígenas, como adereços de cabeça com penas. Ao usar esses adereços como acessório de moda, pessoas brancas e não-indígenas estão removendo todo o significado original do item, que faz parte essencial de ritos religiosos, políticos e sociais dos povos originários.

Outro exemplo de apropriação cultural é o surgimento do rock and roll. O gênero musical se tornou popular e comercialmente aceito nos Estados Unidos via artistas brancos, como Elvis Presley, que até hoje é chamado de “Pai do Rock”, quando na realidade, era profundamente inspirado e influenciado por artistas e músicas negros que, na época, não eram notados pela grande mídia.

Apropriação cultural é um problema?

É virtualmente impossível que culturas não se misturem ou se absorvam, e também é impossível impedir que pessoas se inspirem, simulem ou copiem elementos simbólicos de diferentes povos e vivências. No entanto, é necessário entender que a sistematização dessa apropriação é que é o problema.

Em seu texto “Apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos”, escrito em 2016 e publicado na revista digital AzMina, a filósofa Djamila Ribeiro explica exatamente qual é a problemática presente na apropriação cultural: “esvazia de sentido uma cultura com o propósito de mercantilização ao mesmo tempo em que exclui e invisibiliza quem produz. Essa apropriação cultural cínica não se transforma em respeito e em direitos na prática do dia-a-dia”, explica. É importante dizer que, na grande maioria das vezes, dificilmente a apropriação se traduz para apreciação ou valorização.

Como evitar a apropriação cultural?

Ao passo em que entendemos que a apropriação cultural é um problema, é importante também entender que ela faz parte de um sistema muito maior de opressão e apagamento de culturas, uma roda gigante no capitalismo, e não um feito de indivíduos. Isso significa que uma pessoa branca que usa dreads, ou algum adereço que simula as vestes de povos originários não é responsável por toda a apropriação cultural do mundo.

A crítica à apropriação cultural deve estar sempre direcionada à indústria que lucra. No entanto, é de bom-tom estar atento: na dúvida sobre acessórios, roupas e outras práticas ou elementos culturalmente relevantes e simbólicos, pesquisar, entender e refletir sobre é necessário. Afinal, a apreciação cultural é muito bem-vinda.

Fonte: universo.salonline.

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