GANHOS E PERDAS DA ACESSIBILIDADE
GANHOS E PERDAS DA ACESSIBILIDADE
Dirceu Pio Jornalista
Movidas por preconceito ou ignorância, as sociedades dos países atrasados e até dos mais desenvolvidos economicamente ainda não sabem tudo o que perdem com o desrespeito às Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs).
Vejam estes dados apresentados no recente Fórum da Internet no Brasil, promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br): As pessoas com algum tipo de deficiência já são 1,3 bilhão no mundo. Juntas, já respondem por US$ 7 trilhões em poder de compra anual.
As quatro cidades que – dizem – têm a melhor acessibilidade no mundo são: Seattle e Las Vegas, Estados Unidos; Montreal, Canadá; e Londres, na Inglaterra. As informações disponíveis mostram que essas cidades ainda cuidam da acessibilidade pontualmente, mas já representam um assombro se comparadas às milhares de outras cidades, que ainda engatinham em soluções mais inclusivas.
Só agora a semente da acessibilidade começa a germinar na grande maioria das cidades do mundo, mas o processo é lentíssimo porque todas elas foram feitas para jovens e pessoas saudáveis, e algumas, como São Paulo, no Brasil, vão precisar de uma “operação de guerra” para tornar, por exemplo, as suas calçadas minimamente transitáveis por uma cadeira de rodas.
E para complicar ainda mais o cenário, vemos que a população mundial envelhece e vive mais. Reparem nestes dados: - O relatório The World Population Prospects 2019, da ONU, prevê que o número de pessoas com 80 anos ou mais triplicará, de 143 milhões, em 2019, para 426 milhões, em 2050.
E também nestes: - Estudo da OPAS/OMS revela que em 2050 a população mundial com 60 anos ou mais chegará a 2 bilhões, em contraponto aos 900 milhões em 2015. “Mais pessoas idosas” é igual a “mais pessoas com mais necessidades especiais”. E isto nos dá o tamanho do desafio que temos pela frente. Um dos pontos cruciais da acessibilidade é a Internet, pois por meio dela poderíamos alavancar fortemente a inclusão das PNEs no mercado de consumo e na vida em sociedade.
Mas diante da rede mundial nos defrontamos com mais um grande desafio: de que adiantam banda larga e tráfego em 5G se os cegos, tetraplégicos, paraplégicos, hemiplégicos; surdos- mudos, autistas e tantas outras pessoas com as mais diferentes síndromes que restringem a mobilidade são proibidos de navegar? A situação é tão dramática que quase a metade da população do planeta ainda não tem acesso a internet, segundo o relatório Estado da Banda Larga (divulgado este ano e realizado por empresas privadas em parceria com a ONU). É preciso ainda não confundir o acesso à internet com internet acessível. Se quase a metade da população simplesmente não tem acesso à rede, a maioria que o tem ainda não dispõe dos aplicativos que facilitam a navegação das PNEs.
É reconfortante descobrir, em meio à indiferença quase generalizada, o surgimento, no Brasil, do Movimento Web Para Todos (MWPT), idealizado por Simone Freire e coordenado por Suzeli Rodrigues Damaceno.
O Movimento já identificou as causas da ainda incipiente “Internet inclusiva” no Brasil (o que vale para muitos outros países, inclusive desenvolvidos), entre as quais estão:
1. Falta informação e conhecimento técnico por parte de quem desenvolve sites e aplicativos e das organizações;
2. Falta empatia, convivência com a pessoa com deficiência;
3. Falta de interesse das organizações em adaptar sites e aplicativos para que fiquem acessíveis.
O Movimento Web para Todos (MWPT) definiu também algumas estratégias básicas para reverter este cenário, entre as quais devem ser destacadas:
1. Parar de “fazer PARA as pessoas com deficiência” e passar a “fazer COM as pessoas com deficiência”;
2. Fortalecer a cultura de acessibilidade em tudo que é feito na Internet, em todas as aplicações digitais;
3. Estimular que as pessoas denunciem mais os sites e aplicativos não
4. acessíveis. Desde 2017, o MWPT trabalha para difundir a cultura da acessibilidade na internet principalmente entre os profissionais de comunicação, desenvolvedores e webdesigners.
Dessa forma, novos aplicativos e ferramentas para internet poderão ser desenvolvidos, permitindo, finalmente, o real acesso dos portadores de necessidades especiais (PNEs) à Rede Mundial. Dirceu Pio é Embaixador de Acessibilidade do Instituto da Longevidade Mongeral Aegon