CASTELOS: PARA QUE E PARA QUEM?

CASTELOS: PARA QUE E PARA QUEM?

 

 

Ademir Barbosa Júnior (Dermes)

 

 

            Numa cidade do Nordeste brasileiro um homem pediu uma mulher em namoro. Ela disse “não” porque ele era muito pobre. Triste, o homem pegou materiais de construção e começou a erigir um castelo para provar à mulher que podia lhe dar uma vida de princesa. Na tarefa, gastou décadas.

            O homem sabia que a mulher não habitaria o castelo, mas precisava provar algo. Precisava mesmo? Ou poderia ter esgotado a dor, vivenciado o luto e seguido seu caminho? Em seu projeto de construtor, o fundamento do edifício não era mais o amor, e sim o ego, o qual, independentemente das razões da negativa da mulher, não aceitou sua resposta. Talvez a mulher não o amasse. Talvez o amasse, mas não estivesse disposta a dividir com ele a pobreza e prosperar juntos. De qualquer forma, seu “não” é um sinal inequívoco.

            Enquanto construía o castelo, o homem deixou de construir a própria individualidade, pois toda a sua ação foi pautada pelo desejo de provar algo à mulher que o rejeitara. O castelo era para ele, não para ela. Se ao longo do processo tivesse percebido isso, teria abandonado a construção, ou a terminado e feito um albergue para peregrinos, ou ainda, como alguns monges budistas que constroem lindas mandalas e depois as desmancham, teria ateado fogo ao castelo e dançado sobre as cinzas, não por arrivismo, mas pela alegria de estar vivo.

            Você constrói castelos para que e para quem?

 

Ademir Barbosa Júnior (Dermes) é Mestre em Literatura Brasileira pela USP; Doutor honoris Causa pelo MCNG-IEG; Doutor Honoris Causa em Literatura pela FEBACLA; Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituto Prominas e titular da cadeira 62 da Academia Independente de Letras. Escritor e professor, é também terapeuta holístico e oracular.

Instagram: @dermesautor  

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