REIKI PARA QUEM?

REIKI PARA QUEM?

 

Naquela noite Michelle se sentou com as pernas cruzadas, no tapete da sala, para enviar Reiki. Visualizou o símbolo 4 (coletividades), o símbolo 3 (chave para tempo e espaço), o símbolo 2 (cura emocional) e o 1 (cura  física). Imediatamente sua respiração se acalmou, bem como sua mente. Em sua tela mental surgiram imagens nítidas e sequenciais.

            Um halo de luz se desprendeu de seu apartamento  e se expandiu para todo o condomínio, o corredor de ônibus da avenida central e os bairros próximos da periferia, pousando tranquilamente na cabeça e no peito das pessoas. A expansão da luz prosseguiu, de tal modo que Michelle perdeu as referências de para onde se dirigia quando pousou sobre a torcida, os times, juízes, policiais e outros num amplo estádio de futebol; uma aldeia indígena; um parque onde era dia, e não noite, e crianças andavam de bicicletas; um cemitério com inscrições em grego; uma ilha desabitada por humanos; um presídio no que lhe pareceu ser a Coreia; sobre meditadores no centro de Bombaim, que Michelle reconheceu por ter estado lá fazia dez anos.

            Ao final da sessão de Reiki, Michelle meditou sobre a potência da Energia Universal e do método ao qual havia sido iniciado e do qual se tornara Mestra, iniciando outras tantas pessoas. A placidez que o Reiki lhe oferecia, o equilíbrio, a generosidade, a lucidez com que enfrentara o fim do casamento e um pequeno tumor maligno, enfim, se estava de pé, firme, ou suavemente deitada, era grata ao Reiki.

            Deitada na grande cama de casal encimada por um lindo quadro pintado por uma de suas sobrinhas em que um Sei-he-ki verde e dourado parceria emergir do fundo da tela, pensava sobre a importância de sintonizar-se com boas vibrações, de modo a não deixar baixar o padrão mental e, sobretudo, o emocional. O dia todo trazia oportunidades de ser atraída para baixo, para as preocupações, as inseguranças, as dúvidas, os medos. O problema maior era a inconsciência, ou seja, não perceber esse movimento, pois, mal pressentido, Michelle buscava apoiar-se na respiração ritmada, nos símbolos Reiki e no rosário que herdara da avó. Com o coração aberto, não se importava por não ser católica: o terço havia sido energizado um bom tempo por uma mulher realmente amorosa e que nunca se prendeu a dogmas, mas ofereceu apoio e préstimos a todos os que assomavam a sua porta em tempos de paz ou de guerra, num rincão cercado por mata fechada e cafezais.

            Michelle sempre se sentia bem com as sessões individuais de Reiki a distância para o planeta, partindo sempre de sua própria casa, de seu próprio coração, expandindo o alcance da Energia. Por vezes, à aplicação somava-se o desdobramento, a semividência, experiências ao mesmo tempo intensas e silenciosas, marcadas pelo encontro com o outro e consigo mesma.

 

            De um livro ainda inédito.

 

 

Com dezenas de livros publicados (alguns com traduções para diversos idiomas, outros com premiações, indicações e certificações como PNLD e PNBE), Ademir Barbosa Júnior (Dermes) também publicou 36 revistas especializadas, com temáticas diversas, publicadas no Brasil e distribuídas também em Portugal. É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde também se graduou em Letras, Doutor Honoris Causa pelo MCNG-IEG (SP) pela FEBACLA (RJ), Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituto Prominas e titular da cadeira 62 da Academia Independente de Letras.

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