Quem define o que você quer para o Brasil?

Quem define o que você quer para o Brasil?

Ana Cardoso 

Escritora

 

Sofistas são pessoas que gostam de defender ideias e estudam discursos. O lance dos sofistas sempre foi convencer os outros. Se apoiam na materialidade e criam teorias. Um dos desafios dos sofistas atuais é, por exemplo, convencer as pessoas a votarem em candidatos que contrariam os interesses dos eleitores. 

 

Ser um sofista hoje está muito mais fácil. Há redes prontas para espalhar histórias e influenciar o pensamento e o voto das pessoas.

 

Foi assim com a eleição de Donald Trump, com o Brexit e no Brasil. 

 

Qual o problema de se informar pelo WhatsApp?, você deve estar se perguntando. Tem problema sim. Você quer que a sua percepção do mundo seja real ou seja uma narrativa manipulada?

 

As faculdades de psicologia estão se tornando as mais procuradas. Há cursos de autoconhecimento, meditação e mindfulness para todos os gostos, em todos os cantos. É muita contradição querer entender o ser humano, compreender a si mesmo enquanto usarmos lentes tortas, manipuladas e falsas para saber o que acontece ao nosso redor.

 

Nossa busca real precisa ser pela verdade. A verdade em nossas vidas e na política. 

 

O resultado das eleições no Brasil realmente expressa o seu desejo? O discurso violento de ódio, a ideia de vender a Amazônia, o aquífero Guarani e o pré-sal faz sentido para você? Que dizer do estudo a distância desde os anos fundamentais, que vai na contramão do desenvolvimento socioemocional e das habilidades executivas, o foco de países como a Finlândia e Noruega? 

 

“Pimenta no dos outros é refresco”, todo mundo já ouviu essa. Ninguém quer ser discriminado fora do Brasil, mas muitos expatriados estão fazendo vista grossa a (ou aplaudindo) propostas de retiradas de direitos humanos básicos hoje garantidas a afrodescendentes, população LGBT+, indígenas, soropositivos e vítimas de violências. Acabar com a licença-maternidade e declarar que mulheres devem ganhar menos, manter as crianças em casa, impedindo mulheres de trabalharem, que projeto de governo é esse?

 

Será que os governos anteriores foram tão ruins assim? Para toda a população? Será que ninguém melhorou de vida? Pense rapidamente na sua família, nos seus amigos. O Brasil virou a Venezuela (país que só produz petróleo e tem que importar até alface dos Estados Unidos)? Será mesmo que antes ninguém roubou nada? Ou será que antes não se permitiam investigações?

 

O conservadorismo cultural, aquele que tem pregado menos livros, menos escolas e mais armas, tem consigo um aliado muito poderoso. Em vez de filmes, sermões. No lugar de livros, versículos fora de contexto. Onde deveria haver liberdade, servidão. Para suprimir o amor e o prazer, o que oferecem mesmo? Ah, estes sofistas contemporâneos, como são convincentes.

 

A política do WhatsApp, do ódio, não é uma política de verdade. É a sua negação. Sua consequência é a participação cada vez menor das pessoas no governo. É quase uma volta ao Antigo Regime, do século XV, quando nobreza e clero impunham sua força e supremacia com truculência militar. É isso mesmo que você quer? 

 

No futuro, estudiosos explicarão como tantas pessoas, em pleno século XXI, cometem o grande erro de se deixarem enganar.

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