Respeito não tem cor, tem consciência.
Respeito não tem cor, tem consciência.
“Educação não tem cor” era a frase que se podia ler, de longe, naquele painel, à porta da escola. E estava lá por um motivo louvável: preparação para as atividades desenvolvidas naquela semana ao redor do tema da “Consciência Negra”. Consciência tem cor???
Li a frase e procurei compreendê-la naquele contexto: dia da “Consciência Negra”. Dia em que se pretende conscientizar a gurizada de que se deve respeitar a pessoa pelo que ela é. Pelo fato de ser uma pessoa independentemente da cor de sua pele. Não importa se a cor da pele é cor de rosa, amarela, preta, branca azul ou “cor de burro quando foge”!
O respeito é devido à pessoa e não à cor que ela mostra no seu exterior. Principalmente porque o que importa é a essência da pessoa. E a essência não tem cor. Aliás, a raposa do Pequeno Príncipe já havia ensinado: “o essencial é invisível aos olhos”. E essa invisibilidade se deve ao fato de que a consciência é essencial e por isso é invisível pois não tem cor. Daí: Consciência Negra?
Compreendida a frase: “Educação não tem cor”, minha mente me colocou diante de um nozinho de pensamento: A educação não tem cor, porque faz parte daquelas coisas que são essenciais e, portanto, são invisíveis por não ostentarem cores; se cores tivesse, a essência da educação seria visível. Minha primeira indagação: será que é por que não tem cor que a gente quase não vê gente educada?
Sei que não é por isso.
Vemos poucas pessoas educadas não porque a educação é descolorida, mas porque a educação manifesta-se em atos, em posturas. Manifesta-se nos valores. Educação não tem cor, tem valor. E se vemos poucas pessoas educadas é porque nos deparamos não com uma crise de cores , mas de valores. Nossa crise tem a ver com a ética e não com a estética (que discute, analise e comenta os produtos das cores: as artes; a estética encarrega-se de analisar coisas belas). E educação tem uma dimensão artística, pois é linda quando se manifesta nas pessoas.
Mas é um produto da ética ou manifesta-se nas posturas.
Portanto, a educação não tem cor, pois não é um discurso da estética, mas tem valor, pois realiza-se na postura ética. E partindo da ética retornamos à frase do painel, dizendo que a educação não tem cor. É uma frase manifestada pela ética porque pretende ampliar um valor: o respeito à dignidade da pessoa, independentemente da cor externa. Mesmo porque internamente todos temos as mesmas cores de músculos, ossos e sangue.
Minha mente, entretanto, amarrou outro nozinho de pensamento, diante da frase sobre a educação descolorida. Ocorre o seguinte: se temos necessidade de um dia – ou semana – da consciência negra é porque estamos com nossas consciências encardidas. E caímos numa contradição. A consciência é algo imaterial, portanto, sem cor. Mas ela manifesta-se em atos os quais representam uma postura ética.
Mas a contradição que me chamou a atenção não é de ordem ética, mas semântica. O dia da consciência negra nasceu como reação aos discursos e posturas e frases e atitudes racistas. Tanto que se alguém dirigir-se a uma pessoa de pele preta, chamando-a de “preto” pode enfrentar problemas com a lei… Se alguém, diante de uma dificuldade, diz que “a coisa tá preta”, será taxado de preconceituoso, racista… e sei lá mais o quê.
Estamos, portanto com uma crise de discurso, não porque não sabemos o que dizer, mas porque somos induzidos pelo supostamente correto a usar apenas expressões consideradas “politicamente corretas”. Mas, ao mesmo tempo, nos induzem a desenvolver, em escolas, atividades sobre a consciência negra… e nos veículos de comunicação um discurso truncado, pois artificial. E poucos veem nisso uma atitude racista, preconceituosa, discriminatória.
Daí a necessidade de dizer que, da mesma forma que a educação, a consciência não tem cor. Daí o perigo do dia da “Consciência negra” tingir nossa consciência encardida.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO
Fonte: http://paroquiarolim.com.br/portal/educacao-nao-tem-cor-e-a-consciencia-negra/