Resgatando sua criança interior.
Retorno à essência feminina: Resgatando a criança interior.
"Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa"
Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço (1875-1961)
Todos nós fomos, em algum momento, feridos de alguma forma. E, como somos humanos, na maioria das vezes não reconhecemos esta ferida e, mesmo se a percebemos, não sabemos como curá-la.
Quando o desenvolvimento de uma criança é interrompido, quando seus sentimentos são reprimidos, especialmente a raiva, a mágoa, a falta de amor e carinho, a pessoa torna-se um adulto com uma criança zangada e magoada dentro dela. Para crescer e sobreviver a essas feridas, essa criança vai desenvolvendo mecanismos de defesa para poder seguir sua vida. Descubra qual papel a sua criança interior assumiu, por meio destes comportamentos investigados por John Bradshaw em seu livro "Retorno ao lar".
1. Codependência:
É a perda de identidade. Ser codependente é perder o contato com os próprios sentimentos, carências e desejos. São pessoas cuja identidade depende de algo que está fora delas.
A codependência nasce e cresce em um sistema familiar doentio, como, por exemplo: onde existe um dos membros que sofre de alcoolismo, todos da família se tornam codependentes do alcoolismo desta pessoa e se tornam supervigilantes, se adaptando cronicamente a um estado de alerta e tensão, perdendo o contato com suas características internas, com os próprios sentimentos.
2. Comportamentos agressivos:
Podemos dizer que a criança interior ferida é responsável por grande parte da violência que existe no mundo, pois é o resultado da violência na infância e de mágoas e da dor não resolvida. A criança impotente e ferida transforma-se no adulto agressor. Para melhor entender isso, é necessário entender que existem muitas formas de violência e maus-tratos.
3. Distúrbio narcisista:
Toda criança precisa ser amada e aceita incondicionalmente pelos pais ou pela pessoa que dela cuida; sem este espelho a criança não tem meios de sabe quem ela é. Precisamos saber que somos importantes, que somos levados a sério e que cada parte de nós é digna de ser amada e aceita pelas pessoas em quem confiamos. Essa é a maneira saudável narcisista da criança. Se somos privados delas, nossa noção do EU é prejudicada.
4. Falta de confiança:
Quando uma criança não pode confiar nas pessoas responsáveis por ela, ela desenvolve um profundo sentimento de desconfiança, como se o mundo fosse um lugar perigoso, hostil e imprevisível.
Surge então uma mania de controle, o vício de controle, a mania de criar vários problemas de relacionamento. Não é possível a intimidade com uma pessoa que não confia em nós. A intimidade exige a aceitação do companheiro como ele é.
5. Comportamentos de repetição:
Todo trauma ou tristeza não expressa ou resolvida se congela. Uma vez que não se pode expressar de forma natural e saudável, expressa-se por meio de comportamento anormal.
A repetição é um dos meios mais devastadores da sabotagem praticada pela criança interior em nossas vidas. Existem duas formas de repetição, a interna e a externa. Na primeira, o adulto repete os atos de violência ou os mesmos comportamentos que recebeu de seus cuidadores, como, por
exemplo, pôr em prática as regras idealizadas pelos pais. Fazer ou dizer aos filhos o que jamais fariam ou diríamos.
A repetição interna se trata de repetir em si mesmo as mesmas violências do passado. Nós nos punimos como nos puniam na infância, como, por exemplo, se castigar quando se comete um erro ou dizer coisas como: sua idiota, como pode ser tão burra?
6. Crenças mágicas:
Mágica é a crença de que certas palavras, gestos ou comportamentos podem mudar a realidade. Geralmente, pais negligentes ou abusivos reforçam o pensamento mágico dos filhos. Por exemplo, se você diz ao seu filho que ele é responsável pelos sentimentos dos outros, está ensinando pensamento mágico. Algumas frases comuns, neste sentido, são: "Você está matando sua mãe ", "Veja o que você fez - sua mãe está preocupada", " Está satisfeito? - fez seu pai ficar zangado!". Outra forma de pensamento mágico é a famosa frase: "Eu sei o que você está pensando".
Para a criança, é natural pensar magicamente.
7. Distúrbios de intimidade:
Muitos adultos crianças movem-se constantemente entre o medo do abandono e o medo de serem completamente dominados. Alguns se isolam, temendo serem absorvidos por outras pessoas. Outros recusam terminar relacionamentos destrutivos, temendo o abandono e o medo está só.
Para acreditar que é amada, a criança ferida comporta-se da forma que deve se comportar. Até falso EU se desenvolve com o passar dos anos e é reforçado pelas existências da família e pelos papéis sexuais da nossa cultura. Gradativamente, o falso EU transforma-se naquilo que a pessoa pensa que é.
É impossível ter intimidade sem a noção sólida do EU. Como podemos compartilhar nossa pessoa com alguém, quando não sabemos quem realmente somos?
8. Comportamentos viciados/compulsivos:
A criança ferida que vive no adulto é a causa principal dos vícios e do comportamento viciado. O vício é o relacionamento patológico com qualquer forma de alteração do temperamento, com consequências que representam risco de vida.
Os vícios em atividades incluem trabalho, comprar, jogar, sexo e rituais religiosos. Na verdade, qualquer atividade pode ser usada para alterar os sentimentos.
Pensar também é uma forma de evitar sentimentos. Todos os vícios têm um componente de pensamento, que é criador da obsessão.
9. Distorção do pensamento:
As crianças pensam em função do absoluto. Essa característica do pensamento infantil manifesta-se de um extremo a outro de "tudo ou nada". Se você não me ama, você me odeia. Não existe meio termo. Se meu pai me abandonou , todos os homens vão me abandonar.
As crianças são ilógicas: "Eu sinto de certa forma, então deve ser assim". "Se me sinto culpada, devo ser uma má pessoa". A criança personaliza tudo: "Se mamãe não tem tempo para mim é porque não sou boa".
10. Vazio, apatia, depressão:
A criança ferida também contamina a vida do adulto com uma depressão crônica, sentida como um vazio. A depressão é causada pelo fato de a criança ter de adaptar a um eu falso, abandonando o eu verdadeiro. Quando a pessoa perde o eu autêntico, perde contato com seu verdadeiro sentimento, carências e desejos, que são substituídos pelos sentimentos exigidos pelo falso eu.
O vazio também é sentido como apatia. Como terapeuta, ouço muitos clientes se queixarem de que suas vidas são sem sentido e desinteressantes. Para elas a vida é uma espécie de ausência e não entendem o entusiasmo dos outros.
Por Magda Lizbir Gomes
Fontes:
Retorno ao lar - John Bradshaw,
Revista Progredir
As Leis do Amor - Bert Hellinger