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Barbie: mulher de corpo inatingível ou ícone feminista?

Com licença, Hillary Clinton. Outra mulher está prestes a entrar na corrida presidencial americana este ano: Barbie. Ou melhor, as Barbies. Porque, em sua sexta disputa pela Casa Branca, esse ícone da cultura pop será vendido nos modelos "presidente" e "vice-presidente", e em uma variedade de tons de pele e cabelos.

O conceito se alinha com o que Richard Dixon, presidente da Mattel, a fabricante da Barbie, descreveu como uma ambiciosa "revolução da diversidade" na trajetória da boneca de plástico.

A nova Barbie Everywoman descendo de seu pedestal de princesa com a ajuda de novos pés planos e flexíveis que, segundo Dixon, "a liberaram do salto alto". A boneca foi re-esculpida em formatos de corpos de "mulheres reais" (alta, mignon ou curvilínea) e tem sua própria hashtag: #TheDollEvolves ("A boneca evolui", em tradução literal).

Outra que deve roubar a cena na nova linhagem de Barbies é a Hello Barbie, dotada de inteligência artificial - fato que rendeu até uma capa da The New York Times Magazine, com o título: "Agora eu tenho um cérebro!".

Com vendas em baixa e outra criação da Mattel, a American Girl, ameaçando tomar o seu trono, chegou a hora de a Barbie cair na real.

Inspiração alemã

A mente por trás da Barbie original - aquela de seios fartos e cintura fina - pertencia a uma mulher, Ruth Handler. A empreendedora visionária é tida como a força por trás de seu marido inventor, Elliot Handler, co-fundador da Mattel.

Segundo Anne Monier, curadora de uma exposição sobre a boneca atualmente em cartaz no Museu de Artes Decorativas, em Paris, Ruth observava sua filha Barbara brincando com bonecas de papel quando teve a ideia de criar um modelo inspirado em uma mulher adulta, e não um bebê ou uma criança.

"O conceito revolucionou o mercado de brinquedos, mas tinha uma forte relação com as tradições", explica Monier. A ideia de Handler se cristalizou durante uma viagem à Suíça, em 1956, quando ela descobriu uma boneca produzida pelo tabloide alemão Bild, baseada na personagem de quadrinhos Lilli. "Ela era uma espécie de pin-up sexy que sempre se metia em situações engraçadas com os homens", conta Monier. A filha de Handler já era adulta quando ela finalmente convenceu a gerência da Mattel de que a boneca seria um sucesso. A Barbie chegou ao mercado em 1959.

Do tamanho da mesada

A boneca exibia um corpo inspirado pelas medidas de sonho (e inatingíveis) de estrelas hollywoodianas como Elizabeth Taylor e Marilyn Monroe. Sua primeira roupa - um maiô tomara-que-caia com estampa de zebra - foi pensada para funcionar bem nos primeiros comerciais na TV em preto-e-branco.

Todas as roupas e acessórios podiam ser trocados - dos óculos gatinho aos brincos e tamancos. O guarda-roupa era repleto de opções que cabiam no bolso e nas mesadas das pequenas fãs.

A ideia deu certo: a exposição em Paris se encerra com um painel que exibe nada menos do que 7 mil roupas da Barbie, organizadas por cores. Diante da pressão das fãs para que Barbie tivesse um namorado, em 1961 a Mattel lançou Ken, batizado com mesmo nome do filho do casal Handler.

Não demorou para que a Barbie começasse a receber mais cartas do que qualquer outra estrela de Hollywood - cerca de 20 mil por semana. No início dos anos 60, foram lançadas fotonovelas com a personagem, mostrando sua vida em Malibu. O mito Barbie decolava.

Questão de corpo

A primeira Barbie foi vendida nas versões loira e morena, e a diversidade só era vista entre as amigas e os familiares que a cercavam. A primeira boneca negra do universo Barbie foi sua prima "Colored Francie", lançada em 1967. Um fracasso de vendas.

Só um ano depois, com o lançamento de Christie, a Barbie negra começou a fazer sucesso - coincidindo com o surgimento do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos.

A primeira grande recauchutada da Barbie ocorreu no início dos anos 60, quando ela adotou um corte de cabelo no estilo de Jacqueline Kennedy.

Conforme as mulheres foram se tornando mais independentes - trabalhando, dirigindo e adotando roupas mais curtas -, a Barbie também se adaptou. Surgiram as primeiras bonecas cujos olhos abriam e fechavam, e uma cintura que girava para os lados.

Mas foi o lançamento da Malibu Barbie, em 1971, que cristalizou a imagem da boneca como a garota surfista loira e bronzeada. Seus lábios, antes cerrados, se abriram em um sorriso, e seu olhar, antes fugidio, passou a se dirigir para a frente.

No final daquela década, a Barbie já podia exibir diferentes tons de pele sem confundir o mercado.

Outra mudança radical ocorreu em 2000, com a Jewel Girl, inspirada em musas adolescentes, como Britney Spears, e introduzindo um corpo mais atlético, com direito a umbigo e cintura dobrável.

Mas ganhou força a polêmica sobre a imagem de corpo inatingível que a boneca transmitia. Em 2011, uma jornalista do Huffington Post calculou que se a Barbie fosse uma mulher de verdade, ela teria 1,80 metro de altura, 99 centímetros de busto, 45 centímetros de cintura, 83 centímetros de quadril e calçaria 34.

"Se a Barbie fosse real, ela teria que engatinhar para poder compensar suas proporções", afirmava o artigo. Mais recentemente, a revista Time exibiu uma Barbie mais "cheinha" na capa, com a chamada: "Será que agora podemos parar de falar do meu corpo?".

Bobalhona ou feminista?

Como os visitantes da exposição em Paris podem ver, a Barbie tem 1001 versões. É difícil estabelecer uma única simbologia - há quem a veja como uma bobalhona de plástico e quem a tenha como uma figura da conscientização feminina. Um exército de Barbies mostrado em uma vitrine traz mais de 180 profissões que a boneca exerceu ao longo de sua vida: de caixa de lanchonete a treinadora de futebol, de engenheira informática a médica, de bombeira a arqueóloga.

O grande salto de sua carreira ocorreu nos anos 60, quando ela se tornou astronauta - quatro anos antes de o homem pisar na Lua. Nos anos 80, ela saiu de vez de casa para o mercado de trabalho. Sua primeira campanha presidencial foi em 1992, quando nenhuma mulher havia chegado perto de concorrer ao cargo nos Estados Unidos.

Para Monier, notícias mais positivas em relação à boneca tendem a repercutir menos do que a eterna controvérsia sobre a imagem do corpo ideal. Um exemplo é a Ella Chemotherapy Barbie, uma boneca careca criada para crianças com câncer.

"Apesar daquela imagem cheia de cor-de-rosa e brilhos, a Barbie sempre foi uma boneca que permite que as meninas se projetem em uma vida de mulher independente", afirma a curadora da mostra em Paris. "Ela é um pouco feminista: não se casou, não tem filhos, é totalmente livre para escolher a carreira que quiser. Tudo é possível."

Fonte: Blog BBC News Brasil

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