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Precisamos falar sobre gordofobia

Disfarçada de preocupação com a saúde, a gordofobia está presente na vida de pessoas gordas de forma cruel e implacável. Muitas vezes, os apontamentos feitos sobre o corpo que está “acima do peso” vem disfarçados de comentários sem maldade, piadas sem a intenção de magoar ou até mesmo em forma de “conselhos”, mas, na verdade, são sintomas de algo muito maior: a exclusão estrutural de quem é considerado fora do peso ideal, ou seja, que não condiz com o padrão do que é considerado saudável e bonito.


O que é gordofobia?

Conforme o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, trata-se do “repúdio ou aversão preconceituosa a pessoas gordas, que ocorre nas esferas afetiva, social e profissional”. Não é apenas sobre as falas que ferem profundamente a pessoa gorda, mas é um preconceito estrutural (ou seja, que está presente em todos os lugares) que leva à exclusão social, profissional e econômica da pessoa gorda, negando-lhe acessibilidade. 

Apesar de formarem 57% da população brasileira, gordos ainda sofrem em um mundo feito apenas para magros: da dificuldade em usar assentos e transporte público, ou de encontrar roupas em lojas e até mesmo na hora de encontrar um leito de hospital: para exemplificar os efeitos da gordofobia, uma pesquisa desenvolvida pelo Grupo Catho em 2005, realizada junto a 31 mil executivos, identificou que 65% dos presidentes e diretores de empresas tinham alguma restrição na hora de contratar pessoas gordas. A situação é ainda pior no caso das mulheres, que ainda precisam lidar com a pressão para atender ao padrão de beleza imposto pelo patriarcado.

A gordofobia existe, e ainda passa pelo campo da saúde pública: estudos científicos e médicos apontam que ser magro não é sinônimo de ser saudável, e nem ser gordo é uma sentença de doenças ou de morte: o periódico científico Nature Medicine publicou um consenso internacional pelo fim do estigma ligado ao excesso de peso. 

Assinado por mais de 100 instituições ao redor do mundo, incluindo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o documento aponta que, muito mais grave do que a falta de exercício físico ou alimentação correta, o isolamento social, o bullying e a discriminação, que são consequências da gordofobia, apresentam muito mais perigos para a população gorda, com graves efeitos em sua saúde física, psicológica e mental. Ou seja, a própria gordofobia é uma grande dificultadora do tratamento correto de pessoas acima do peso.

Como lidar com a gordofobia?

Ainda conforme o artigo da Nature Medicine, especialistas em medicina e ciência apontam que a solução para dar início ao fim da gordofobia é educar a população para deixar de encarar o excesso de peso como uma responsabilidade do indivíduo ou sinônimo de preguiça ou indisciplina. Não é só alimentação e exercício físico: genética, sono, estresse, desequilíbrio hormonal, uso de medicamentos, e até mesmo os produtores de alimentos e os políticos também têm sua parcela de responsabilidade na qualidade da alimentação e no aumento dos níveis de obesidade, na liberação de agrotóxicos que aumentam o acúmulo de gordura no organismo, como identificado pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Profissionais da saúde, universidades, escolas, instituições públicas, privadas e a própria mídia são ótimas aliadas para disseminar essas informações com o devido respeito, livre de estigmas e preconceitos, utilizando evidências científicas modernas para garantir o bem-estar e a qualidade de vida de pessoas gordas. 

A inclusão precisa ser realizada em todas as esferas da sociedade, principalmente nas escolas e estabelecimentos públicos. É importantíssimo que nenhuma pessoa gorda tenha seu acesso, sua dignidade e seu bem-estar comprometidos por conta do que a balança aponta: afinal, o corpo gordo é capaz!

Quais são as frases gordofóbicas para tirar do seu vocabulário?

Algumas frases e ações podem descrever perfeitamente como a gordofobia faz parte da rotina das pessoas. Até o próprio ato de diminuir a condição física da pessoa gorda com adjetivos como “fofinha”, “cheinha” ou “gordinha” já configura um preconceito, pois denuncia a necessidade de “atenuar” a característica. Veja outras frases e termos gordofóbicos para abolir do seu dia a dia:

Usar “gordice” como adjetivo

Você já deve ter ouvido falar no termo “gordice” para referir-se ao ato de exagerar na comida ou de comer mal, de forma pejorativa: “dia de gordice” ou “cabeça de gordo” são frases que usam a pessoa gorda como sinônimo para comer mal e de forma exagerada. Isso apenas corrobora a ideia de que o excesso de peso se deve a uma má alimentação, reforçando estereótipos negativos, quando, na verdade, é um problema de saúde multifatorial.

Achar que “gordo” é algo ruim


A maioria das pessoas costuma automaticamente considerar o “ser gordo” com algo ruim: ouvir coisas como “você não é gorda, você é linda!” ou “você é bonita de rosto” é algo corriqueiro para pessoas gordas. Isto, na verdade, também reforça o senso-comum de que elas não são bonitas, quando, na verdade, a beleza não é sinônimo de magreza.

Associar ganho de peso com desleixo e falta de saúde

É comum ouvir frases como “fulano engordou, precisa cuidar da saúde”, como se estar magro significasse auto-cuidado e boa forma. Na verdade, ser magro nada tem a ver com ser saudável: uma pesquisa recente constatou que crianças com excesso de peso se alimentam melhor do que crianças magras, já que a preocupação dos pais para criar uma dieta balanceada é maior. A gordofobia, na maioria das vezes, se mascara como “preocupação” com a saúde para justificar o incômodo com a imagem da pessoa gorda, quando na realidade, gordos também podem ser saudáveis e ativos.

E mais: associar perda de peso como uma conquista

Perder peso é uma escolha que, muitas das vezes, é altamente influenciada pela gordofobia. Claro que pessoas que se esforçam para perder peso devem ser parabenizadas, mas ao tratarmos isso como conquista, reforça-se o estereótipo de que gordos não perdem peso por falta de foco e disciplina, e até mesmo incentiva o aparecimento de distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia, consequências da vontade de emagrecer a todo custo e que podem matar. 

A realidade é que cada organismo age de uma forma diferente, e a oscilação de gordura corporal é influenciada por diversos fatores que não é só disciplina na alimentação e na atividade física.




Escrito por: Thauany Lima / https://universo.salonline.com.br/gordofobia/


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