Adriana Chiari Magazine

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EXISTE UM “UMBANDAN WAY OF LIFE”?

EXISTE UM “UMBANDAN WAY OF LIFE”?

 

A Umbanda não é uma grife, embora muitos tentem elitizá-la, distanciando-a de suas origens e de seu objetivo primeiro enquanto instrumento sagrado de religação com o Divino, de auto-aperfeiçoamento e de serviço ao próximo.

Não importa o tamanho da construção e se tem o nome de tenda (como as casas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e tantas outras, para lembrar a importância do acolhimento e da humildade), templo, cantinho, núcleo ou outro, inclusive derivado dos Cultos de Nação. Toda casa de Umbanda descende dos agrupamentos feitos em grotões, quartinhos, taperas, como pontos de luz, ousadia e resistência.

Tal qual a manjedoura do Mestre Jesus, com o qual se sincretiza Oxalá, consagrada pela Luz Divina, uma casa de Umbanda carece de boas energias, limpeza, beleza, simplicidade, o máximo de conforto possível e disponível para todos, mas não de brilho, fausto, ostentação.

O serviço mediúnico na Umbanda, como, aliás, em toda religião, pressupõe humildade, mas nunca humilhação, exercício de autoridade (coordenação) em várias funções, mas nunca autoritarismo, imposições, culpabilizações, terrorismo psicológico e outros. Vale lembrar que todos somos médiuns, com dons diversos a serem desenvolvidos. Imagine-se o débito cármico daquele que se utiliza da autoridade de modo abusivo, do medo, de boicotes e outros para manipular seus irmãos e/ou impedir, bloquear ou supostamente “atrasar” seu desenvolvimento como indivíduo e médium de Umbanda.

Umbanda é amor, alegria e confraternização. Sua espiritualidade a aproxima do cotidiano. Não se pode vivenciar a espiritualidade umbandista de modo dissociado, extraindo-se a alegria, a realização, a plenitude, a compaixão. Além disso, de que adiantará ser “um” na gira e “outro” na rua? Que contra-senso um umbandista colaborar com a limpeza do terreiro, mas, por exemplo, sujar os pontos de força dos Orixás, Guias e Guardiões, jogar latinhas de cerveja no mar após um dia de praia e descuidar do próprio corpo, congá primeiro escolhido por sua Banda para atuar no plano físico, seja pela incorporação, seja por outros dons mediúnicos.

A Umbanda é uma senzala de luz voltada para a libertação holística (corpo, mente, espírito). Se existe um modo de viver umbandista é o de levar a gira para o cotidiano, com alegria, desenvoltura, companheirismo, aceitação, com vistas à realização plena do indivíduo e da coletividade.  Em outras palavras, cada um e todos crescendo juntos.

Um agrupamento umbandista que, apesar do trabalho incessante da Espiritualidade, não permita o pleno desenvolvimento de seus membros e se perca em minúcias de protocolo, e não em gestos de amor; em “ritualices”, e não em rituais fundamentados; no personalismo, e não no respeito à diversidade certamente não será tenda, templo, cantinho ou outro, mas Castelo de Caras, com direito a Umbandan Fashion Week a cada gira e onde o suposto Umbandan way of life acabará por expulsar Orixás, Guias, Guardiões, umbandistas e irmãos da assistência que desejam aproximar-se cada vez mais da Luz Divina, sendo também cada um e todos pontos de propagação da mesma.


Dermes (Ademir Barbosa Júnior) é sacerdote umbandista, terapeuta holístico, atuando com várias técnicas. É escritor e professor, Mestre em Literatura Brasileira pela USP, Doutor honoris Causa pelo MCNG – IEG e Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituo Prominas.

 

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