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Gabriella: A Voz da Inspiração

Gabriella: A Voz da Inspiração

 

“Tenha orgulho de ser diferente. Encontre a sua própria voz, e use-a como fonte de inspiração para as outras pessoas”, Gabriella Di Laccio

 

Apesar de ser amante da matemática e de suas equações perfeitas, foi na música clássica que a soprano  brasileira Gabriella Di Laccio encontrou sua própria voz. Gabriella faz parte, hoje, da seleta lista das 100 mulheres mais influentes do mundo, recebendo o prêmio BBC 100 Women 2018, como cantora lírica e fundadora do projeto Donne, Women in Music. 

 

COMO TUDO COMEÇOU

 

A paixão pela música clássica começou logo cedo. Aos 9 anos, Gabriellajá cantava no coral da escola católica na grande Porto Alegre, e aos 14 anos fazia parte do coro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). No entanto, naquela época “não tinha noção que cantora lírica poderia ser uma profissão. Meu sonho era ser arquiteta”, revela Gabriella.

 

Mas, foi no segundo ano da Faculdade de Arquitetura, que Gabriella acabou criando uma nova equação matemática para sua vida. 

 

“Sempre gostei dos números, por isso fui estudar arquitetura. Mas, durante a Faculdade, senti muita falta da música. E de repente, uma nova equação matemática ficou muito clara em minha mente. Se eu quisesse ser cantora lírica profissional, eu teria que me esforçar para ser a melhor soprano que eu pudesse ser, uma soprano de nível internacional. Para isso, precisaria estudar com os melhores professores do Brasil. Larguei, então, a Faculdade de Arquitetura, me mudei para Curitiba para estudar com a melhor professora de canto no Brasil  - Neyde Thomas - e lá fiz o Bacharelado em Canto Lírico na Escola de Música e Belas Artes”, conta Gabriella. 

 

Aos 23 anos, Gabriella já era soprano na renomada Camerata Antiqua de Curitiba, e viajava internacionalmente para cantar em concertos e óperas. Certo dia, um maestro inglês reconhecendo o seu talento, a incentivou e sugeriu que estudasse em Londres, onde poderia ter mais oportunidades profissionais. Gabriella aceitou o seu conselho. Fez o teste no Royal College of Music, em Londres. Ganhou uma bolsa de estudos, e em 2001, começou o curso em um dos mais conceituados conservatórios de música clássica do mundo. 

A BUSCA PELA ACEITAÇÃO 

 

Apesar de o Brasil deter grandes nomes da música clássica, compositores como Chiquinha Gonzaga e Heitor Villa-Lobos, o mercado brasileiro de música erudita é ainda pouco conhecido internacionalmente. Fato que contribuiu para Gabriella sentir-se ainda mais “diferente” do novo grupo de músicos que tentava agora fazer parte. 

 

“Queria me encaixar. Mas, quando tentamos ser algo que não somos, isso gera insegurança e frustração. Descobri, então, após ter me formado, que seria justamente essa “diferença” que me ajudaria a me destacar como cantora líricano mercado internacional”, explica Gabriella.

 

Gabriella passou, então, a desenvolver um repertório clássico com foco latino-americano, abordando também compositores brasileiros. 

 

Hoje, Gabriella é cantora lírica freelance, e recebe inúmeros convites não só para cantar músicas brasileiras, mas também outros estilos, da música barroca (uma de suas especialidades) e  música contemporânea. Ganhadora de 4 prêmios internacionais, Gabriella já lançou 3 CDs solos, e há 3 anos lançou o selo independente chamado DRAMA MUSICA, que já abrange quase 30 músicos brasileiros.

 

 

PROJETO DONNE: WOMEN IN MUSIC

 

Foi pesquisando em um sebo de livros sobre música em Londres, que Gabriella se deparou com a “International Encyclopedia of Women Composers”, escrita pelo jornalista norte-americano, Aaron I. Cohen. A enciclopédia, de dois volumes, abordava o trabalho de 6 mil mulheres compositoras da história da música internacional até a década de 80, quando o livro foi publicado (1984). 

 

“Percebi, então, como o trabalho extraordinário das mulheres compositoras tem sido subestimado e ignorado ao longo da história da música até os dias de hoje. Me surpreendi com o fato de que eu nunca havia reparado - ou questionado - que na maioria dos concertos só há nomes de homens compositores”, explica Gabriella. 

 

 

 “É importante que a músicas de mulheres compositoras seja tocada, não só porque são de mulheres. Não se trata de um programa de cotas, mas porque são músicas realmente de altíssima qualidade e grande valor artístico”, diz Gabriella. 

 

Após um ano e meio pesquisando sobre os trabalhos das mulheres, e percebendo a falta de informação sobre esse assunto no mercado, Gabriella resolveu lançar o projeto DONNE: Women in Music para divulgar de forma mais acessível e atraente, o trabalho das mulheres compositoras pelo mundo. Servindo como fonte de inspiração a TODAS as mulheres,  já que essas histórias são exemplos de persistência e superação. 

PESQUISA

 Gabriella realizou uma pesquisa para saber quantas mulheres compositoras havia atualmente no repertório das 15 maiores orquestras sinfônicas do mundo. O resultado foi desastroso, apenas 2.3% das músicas tocadas eram compostas por mulheres.

:http://bit.ly/DONNE2018_2019OrchestraSeasons 

 

A pesquisa, ao ser divulgada no site DONNE, chamou a atenção do jornal britânico The Guardian, que fez uma matéria sobre o assunto citando o projeto. bit.ly/DONNEGuardian

 Desde, então, Gabriella tem sido contatada por compositoras do mundo inteiro.  Fundado no Dia Internacional da Mulher, 8 de Março de 2018, o projeto DONNE já detém uma lista de mais 6 mil mulheres compositoras, atuantes nos dias de hoje, além das compositoras históricas.  

 NOVOS PROJETOS  

 Através do financiamento proveniente do Arts Council England, e de seus próprios recursos,Gabriella já produziu 2 CDS contendo obras de mulheres compositoras. Mais 3 CDs serão lançados até Outubro de 2019. “Temos material para muito mais CDs. O que falta são recursos financeiros”, explica Gabriella.
Para conhecer melhor o projeto DONNE: Women in Music, e ajudar a causa, visite: bit.ly/DonneUK

Email: donne@drama-musica.com

 MENSAGEM PARA AS LEITORAS

 Como já dizia Oscar Wilde, “Seja você mesmo, todos os outros já existem”.

 Em alguns momentos, na busca pela inatingível perfeição ou pela vontade de sermos aceitos, nos esquecemos de dar valor a nossa própria voz.

 No meu caso, como artista, a minha voz deve estar a serviço da música, e não o contrário. E se essa voz puder semear uma pequena reflexão, gerar curiosidade, promover a diversidade ou simplesmente transportar uma pessoa para um outro lugar durante um concerto, este é o maior impacto que eu poderia desejar.

 

Nunca desista dos seus sonhos!, diz Gabriella

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