Adriana Chiari Magazine

View Original

No ambiente corporativo divergência não pode ser compreendida como inimizade.

No ambiente corporativo divergência não pode ser compreendida como inimizade.

Imagine se, ao invés de uma idade mínima para o trabalho, a legislação exigisse uma idade mínima comportamental para o trabalho. Ou seja, posturas e ou comportamentos maduros frente as situações das mais adversas. Complicado, né?

Pois é. Na semana passada uma situação pessoal ocorrida e a forma de resolução escolhida pelo João trouxe grande reflexão.

João, pelo telefone, reclamou de um fato ocorrido na escola, quando foi insultado e até de certa forma agredido por dois coleguinhas de sala, sendo claro ao informar de qual maneira a questão seria resolvida: entrar no judô com o objetivo de aprender golpes para descontar nos colegas o mal recebido. E mais, a partir de então, seriam “inimigos para todo o sempre”.

Tudo por causa de uma divergência ocorrida em uma partida de futebol no recreio!

Diante da situação, inevitável não pensar nas fases e nos necessários aprendizados propostos pela infância e adolescência, bem como na forma recorrente ou comum escolhida para as resoluções das divergências. Quase sempre, pelo uso da violência em suas mais variadas formas.

No entanto, passado o momento inicial da chateação, tanto para o filho quanto para o pai, natural foi também relembrar por quantas vezes no meio corporativo observamos adultos transformando meras divergências em relevantes inimizades e portando-se como verdadeiros adolescentes ou até mesmo crianças. 

Um verdadeiro “belém, belém, nunca mais fico de bem”, para selar o fim das relações.

Pessoas lidando com suas emoções e diferenças interpessoais como faziam na escola e gestores competindo entre si como se na quadra de jogos ainda estivessem. 

Comportamentos juvenis carregados de prepotência e arrogância prevalecendo sobre o bom senso, o ego sobressaindo sobre o espírito de cooperação e a vaidade querendo ofuscar os ganhos coletivos. 

Em geral, sem que se tenha a percepção necessária de que em uma batalha assim travada no meio corporativo, ainda que alguém prevaleça, acarreta perdas para a equipe.

Porém, o que se verifica é que as posturas imaturas que transformam meras divergências em inimizades ou mesmo em “guerras” no ambiente corporativo são adotadas, em grande parte, de maneira inconsciente, uma vez que não há nem ao menos uma cultura de ensino na infância ou adolescência voltada para o acompanhamento ou trato das próprias emoções.

Somos estimulados a gerir pessoas, mas não a gerir no próprio ego, a raiva, ou até mesmo os próprios medos. 

Aliás, a prática revela o ensino ou estímulo a ocultação dos sentimentos sob a deturpação do tão falado e, de fato, fundamental equilíbrio emocional.

Ocorre que as emoções estão lá, não tratadas e sempre esperando um momento “inoportuno” para a manifestação, seja expressa em um grito, choro, tratamento ríspido, um não dar “o braço a torcer” ou até em um pedido de demissão. 

Emoções que acabam por amplificar pequenas divergências ou desentendimentos no trabalho ao ponto da inimizade, o que não ocorreria no mundo das relações maduras e que acabou por estimular a criação de dois grupos bem distintos e de certa forma antagônicos nas organizações: os que não estão dispostos a escutar nada e os que estão dispostos a falar tudo. 

Cada grupo com seus efeitos maléficos próprios, mas com ao menos duas características em comum, quais sejam, o abandono da empatia e do bom senso nas relações corporativas diárias.

***

Eli Pinto Melo Júnior é Diretor Presidente na E-Vida, Contador de "Causos" de Gestão e Pai do João.

Keli Rodrigues é Psicóloga e Diretora na Essencial Psicologia.

See this content in the original post