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Dia dos Mortos: Um dia para celebrarmos as memórias

Dia dos Mortos: Um dia para celebrarmos as memórias

“Os mortos são invisíveis, e não ausentes”. (Victor Hugo)

No dia 02 de novembro vários países e culturas celebram e homenageiam seus ancestrais que se encontram em outra dimensão. Dependendo do contexto histórico, social e cultural em que o sujeito está inserido, o dia pode ganhar um viés festivo ou pode ser um dia para reflexão e oração. Eu penso que seja o dia de celebrarmos as boas e eternas recordações…

Neste sentido, a tradição religiosa de se ter um dia para lembrarmos e rezarmos pelos nossos antepassados, iniciou-se por volta de 998 DC, quando o abade Odilo de Cluny, em Borgonha na França, estabeleceu aos membros de sua abadia e a todos aqueles que professavam a fé da Ordem Beneditina a obrigatoriedade de se rezar pelos mortos. Segundo Fernandes, a partir do século XII, essa data popularizou-se em todo o mundo cristão medieval como o Dia de Finados, e não apenas no meio clerical. Apesar do processo de secularização e laicização que o mundo ocidental tem passado desde a entrada da Modernidade, o dia 02 de novembro ainda é caracterizado como sendo um dia específico para se meditar e rezar pelos mortos.

No Brasil, no dia dedicado aos mortos, as pessoas possuem o hábito de irem ao cemitério. Faz parte do ritual limpar, colocar flores e acender velas nos túmulos dos entes queridos. Também é comum que sejam celebradas missas em algumas igrejas em honra ao dia, para que as pessoas possam rezar por seus entes queridos que já morreram. Assim como no Brasil, nos EUA o dia dos mortos também é celebrado no dia 02 de novembro. Os americanos, principalmente de origem latina, visitam os cemitérios onde os seus entes queridos estão enterrados.

Contudo, no mesmo continente temos diferentes formas de celebrar o dia. No México a data é motivo para uma celebração festiva. Conhecida como “Dia de Los Muertos“, a celebração do país vai de 31 de outubro a dia 2 de novembro. O feriado é visto como uma data alegre, as pessoas se vestem com fantasias coloridas de caveiras, constroem altares dentro das casas e preparam as comidas e bebidas preferidas de seus antepassados para lhes oferecer como uma oferenda. Desta forma, o povo mexicano acredita que o legado da pessoa é vivido e reforçado mais uma vez, por meio dos familiares e amigos que ainda vivem. A celebração foi incorporada e adaptada em regiões de outros países por imigrantes mexicanos.

No Japão, o dia dedicado aos mortos, conhecido como Obon, ocorre por volta do dia 15 de julho no calendário lunar. No dia 13 de julho as pessoas instalam um altar chamado de Seirei-tana e colocam velas, frutas e verduras, numa oferenda às almas dos ancestrais que retornam a seus lares. Quando chega a noite, acende-se uma fogueira chamada Mukaebi na frente da casa para guiar as almas dos mortos para suas residências. Entre os dias 14 e 15 de julho, as pessoas costumam visitar os túmulos e pedem ao monge para fazer uma oração. No dia 16, ao encerrar o festejo, acende-se uma outra fogueira conhecida como Okuribi para as almas dos mortos retornarem ao plano espiritual em segurança.

Na Guatemala, o dia dedicado aos mortos é 1º de novembro, dia de todos os santos. A data é festiva e alegre. Os moradores locais, vestem roupas coloridas, passam o dia nos cemitérios, limpando e cuidando dos túmulos e decorando-os com flores. Eles fazem piqueniques ao lado dos jazigos de seus familiares queridos. Uma tradição interessantíssima é a construção de pipas gigantes de cores vibrantes que são soltas geralmente de dentro do cemitério. Os moradores acreditam que ao soltar pipas com mensagens escritas sobre elas, podem se comunicar com os mortos. Os desenhos de cores vibrantes das pipas, feitas de pano e papel com estrutura de bambu exibem temas religiosos ou folclóricos.

Independentemente da cultura e de suas crenças, o dia dedicado aos mortos também é um bom momento para refletirmos sobre a finitude da vida, ou seja, sobre nossa própria mortalidade. Ao nos permitirmos refletir sobre a morte podemos atribuir significados à nossa vida. Falar e pensar sobre a morte pode ser um ato transformador. Afinal, um dia todos nós sairemos de cena e seremos nós os celebrados no dia dos mortos.

Boa celebração a todos!

Nazaré Jacobucci
Psicóloga Especialista em Luto
Especialista em Psicologia Hospitalar
Psychotherapist Member of British Psychological Society (MBPsS/GBC)
http://www.perdaseluto.com