Maternidade : A dor e a delícia de ser o que é .
Maternidade: a dor e a delícia de ser o que é.
Nasci com o dom de sangrar. Toda mulher, traz em si a eternidade a lhe preencher o ventre e a espada a lhe atravessar a alma. Escrevi essas palavras quando via um quadro de Rembrant, onde Simeão apresenta Jesus no templo. Ao fundo, Maria tem apenas o rosto iluminado. Em minha mente a tela ganhou vida e as palavras de Simeão a Maria ficaram em mim: ‘ E quanto a você mulher, uma espada lhe atravessará a alma.’
Carregar a beleza de gerar eternidade e ao mesmo tempo ser atravessada pela realidade diária. Ai repousa a dor e a delícia de ser mãe. Sãos transformações em nosso corpo, reconfiguração em nossa vida, insegurança em nossos poros misturado com a alegria de ver aquela coisinha pequena e apaixonante olhando e dependendo de nós. E quando mesmo é que estamos prontas pra ser mãe?
A escolha pela maternidade é um momento único na vida de uma mulher. Ser mãe não é uma condição, é uma escolha. E uma vez feita, cada mulher carrega em seu ventre o privilégio de construir a vida para além de si mesma. Costumo dizer as minhas pacientes em terapia, que a escolha acontece quando o desejo de cuidar supera o desejo de ser cuidada. Então nasce uma mãe.
Para muitas de nós a vida vai seguindo um fluxo. Os desafios de construir uma profissão, uma carreira, um relacionamento vão demandando tempo e atenção até percebermos que para algumas escolhas, o tempo estabelece limites. Mesmo que a medicina e a própria conquista da mulher na ampliação de seu papel social no mundo nos possibilitem maior tempo, ainda assim , lá esta ele, o do relógio biológico cantando em tom de Nana Caymmi: batidas na porta da frente, e o tempo. O bolo começa ficar pequeno pra quantidade de velas. E a hora de ser mãe chegou pra você aos... trinta e cinco, trinta e oito... não, não ... quarenta!
Aos 33 fui mãe de Sophia e aos 36 de Victoria. Foi nesse momento de minha história que descobri estar pronta para que elas viessem. Os anos anteriores foram empenhados no processo de formação profissional e em desenvolver minha profissão. Escolhas que construíram quem sou hoje. Todo um pacote enfeitado por duas carinhas de anjo cheirando a bebê Natura e a gratidão de ter ao meu lado meu homem, um parceiro incrível em dias de dores e delícias.
Conheci Magda um dia desses. Mãe aos 42 anos. Com voz doce ao telefone e uma disposição e abertura para compartilhar, me contou um pouquinho da sua aventura de viver. Magda é uma mulher empreenderora na vida. Professora, gestora no campo da hotelaria. Filha de mãe solteira cresceu com o mantra: `se forme, tenha estabilidade, construa sua vida e então’... Foi quando fez uma mudança em sua história profissional, agregando a sua profissão outro campo de atuação um pouco diverso do que ela vivia, mas bem afinado a sua essência: o das terapias alternativas. E acolhedora por definição. Enfrentou a realidade e a dor dessas e de outras mudanças. Casou-se uma segunda vez, chorou a perda e a dor de 4 abortos involuntários. E veio Elias e com ele a abertura para maiores encontros consigo mesma, com sua história familiar, profissional e com a própria realização da maternidade. A função materna para ela também ampliou sua relação como filha abrindo novos olhares para a vida.
Magda tem a parceria de Fred, seu companheiro, que fechou com ela na construção do projeto Elias ( hoje um projeto de 1 ano e 9 meses) e isto possibilitou a ela a continuidade em sua vida profissional. Ela diz que se organizou pra ser mãe tanto nos aspectos da vida prática para o cuidado de seu bebe, quanto sua vida interna para receber Elias em sua história .